Às vezes pergunto-me: e se, um dia, todos perdêssemos o conhecimento ao mesmo tempo? Não é uma pergunta cuja resposta se encontra na série americana FlashForward. A minha pergunta prende-se com a perda da noção de como é viver em sociedade. Será que iríamos descobrir e aprender tudo de novo, até chegarmos ao que temos hoje, sem tirar nem pôr? Ou, por outro lado, descobriríamos uma forma nova de conviver e de estar uns com os outros?
O ser humano é um poço de conhecimento. No entanto, existem "regras" oriundas dos diversos povos que viveram no planeta, desde o início dos tempos. A aprendizagem é um caminho longo. E, depois de se aprender, cada um aplica o conhecimento de forma diferente. As "regras" são iguais para todos, na forma como são transmitidas. Contudo, a sua aplicação depende da maneira como cada um de nós olha para elas e o que considera correcto ou incorrecto. Numa turma, um professor diz para vinte e tal alunos que não se deve cuspir no chão. Uma percentagem respeita e segue a "regra", enquanto outra acha que isso não faz sentido e cospe para o chão assim que sai da sala de aula.
Quando me pergunto se a sociedade saberia recriar tudo o que tem, não consigo arranjar uma resposta que considere acertada. Será que as pessoas continuariam a não dizer "bom dia" ou "boa tarde" quando se cruzassem num mesmo espaço? Será que as pessoas continuariam a ver um concerto de pé quando pagaram bilhete para estarem sentadas, fazendo com que os que estão atrás não vejam, ficando como se nada fosse o concerto inteiro? Será que as pessoas continuariam a ser maus profissionais, atendendo de forma insatisfatória um cliente? Será que as pessoas continuariam a não respeitar uma fila de trânsito, tentando sempre entrar a meio? Será que as pessoas continuariam a não deixar as pessoas saírem do metro para que elas possam, depois, entrar sem problemas?
A sociedade existe há muitos anos. Consta que existe sociedade desde que o Homem se conseguiu precaver do futuro, guardando água no Inverno, sabendo que esta iria faltar no Verão. E, ao longo do tempo, temos vindo a aprender a conviver uns com os outros. Uns percebem que na delicadeza e respeito é que está a forma de todos nos dar-mos bem e conseguirmos interagir de forma civilizada. Outros não. A questão aqui é perceber quem está a agir bem. Já se sabe que quem age menos bem, safa-se sempre. E se um dia tudo isto fosse posto em causa? E se um dia, todos nós tivéssemos de começar do zero?
A (in)consciência de cada um de nós é soberana na forma como vivemos. As "regras" são iguais para todos. Ou as seguimos, ou optamos por contorná-las. Não podemos dar tudo como garantido. Um dia acordamos às escuras e temos de recomeçar. E aí?
A sociedade somos nós. As "regras" somos nós que as fazemos. Tudo depende de nós. Nós, seres humanos, temos de aprender que a liberdade foi conquistada aos poucos, mas foi conquistada por nós, conquistada por todos. No entanto, é preciso perceber que a nossa liberdade termina onde começa a liberdade do outro!
Se calhar, está na altura de olharmos mais para dentro, para a nossa (in)consciência.
3 comentários:
Mas que grandes reflexões... Como isto está hoje, começar tudo do zero seria mesmo a melhor solução. Já agora, flash forward é grande série :p
Como dizia o outro: "há dias assim!".
Belinha, muito obrigado por deixares comentários aos meus posts!
Obrigado pela persistência! :)
Adorei! De vez em quando até dizes umas coisas giras! eheh
Acho que não conseguiria escrever melhor que tu essa tua (tão minha também) insatisfação!
Let's restart all over again?
Na verdade acho que apesar do que faz errado safar-se sempre, prefiro dar o melhor de mim e viver com a minha consciência feliz e tranquila de que fiz o melhor pelos outros. Viver a essência do amor pelo próximo ;)
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