domingo, 30 de maio de 2010

As duas faces do Facebook

"A face do dinheiro
Todos nos sentimos bem quando aderimos a uma causa no Facebook: seja para marcarmos a nossa posição no que respeita a uma injustiça, seja para partilharmos com os outros uma iniciativa que contribui para gerar a felicidade de alguém. Contudo, é muito fácil esquecermo-nos que o Facebook não é uma organização de solidariedade, mas sim um negócio. Tal como o Google, estar nesta rede é gratuito. E, embora a empresa não tenha revelado os seus lucros, os analistas estimam que, para o ano de 2010, mil milhões de dólares seja a receita a entrar nos seus cofres, o dobro da que alcançou no ano passado. De acordo com a firma de pesquisas web comScore, o Facebook disponibilizou, no primeiro trimestre de 2010, mais de 176 mil milhões de banners de anúncios aos seus utilizadores. Para além da publicidade “normal” e desde que a sua plataforma permite, igualmente, gerir as preferências dos amigos, se um destes colocou um “gosto” no último modelo de calças da marca X, não passará muito tempo até que um anúncio desta marca apareça na sua página. Ou seja, mil “gostos” por dia significam mil maneiras para o Facebook receber mais informação, embrulhá-la e vendê-la. Existem ainda os bens virtuais, que podem ser comprados, a par da venda de aplicações para a plataforma. A recente polémica com o famoso Farmville confere uma excelente imagem desta máquina de fazer dinheiro. Incomodada com os termos de parceria que possuía com o Facebook, a Zynga – a empresa responsável pelo desenvolvimento do jogo – ameaçou abandonar o site. No seguimento das alterações realizadas pelo Facebook, que exige às empresas parceiras 30% das receitas geradas através da sua plataforma, a Zynga tentou ripostar, mas acabou por aceitar as novas condições e fechou um novo contrato, por mais cinco anos, com a empresa de Mark Zuckerberg sem, contudo, revelar os seus termos. É que não é fácil deitar fora 239 milhões de utilizadores activos, já que a Zynga é igualmente responsável por outros jogos sociais de sucesso na rede social, entre os quais o Mafia Wars e o Fishville. Só o Farmville conta com 75 milhões de jogadores. Ou seja, na verdade, o Facebook não nos obriga a comprar nada. Só nos mostra, muito subtilmente, a partir dos nossos amigos, “gostos” e ligações, o caminho para a tentação.

A face negra
Se pensarmos que, neste “continente virtual”, existem tantas pessoas como a população europeia, é muito natural que nele existam também guerras ou tratados de paz. O mundo Facebook é, de certa forma, como o nosso, real, de todos os dias, no qual nos envolvemos emocionalmente. Das controvérsias relativas a conteúdos inapropriados, que podem incluir temáticas tão diversificadas como a negação do Holocausto, até ao ciberbullying (que já levou ao suicídios de jovens), a grupos pró-Mafia, ou a governos que bloquearam o acesso ao mesmo, como é caso da China, do Paquistão, da Síria, do Irão ou do Vietname, entre outros temas impossíveis de enumerar, face à sua quantidade, existe ainda outro problema: o que está relacionado com a produtividade das empresas. De acordo com um estudo recentemente divulgado pela Associação Nacional das PME, basta um empregado, em Portugal, perder cinco minutos por dia a interagir numa rede social, para que 1,5 milhões de euros sejam perdidos pelas pequenas e médias empresas. Ora, cinco minutos serão talvez muito pouco, face ao carácter viciante desta rede. Daí que sejam muitas as organizações, nomeadamente as de maior dimensão, a que se juntam, por exemplo e também, as autárquicas, que optam por adquirir ferramentas que barram o acesso a este tipo de sites. Contudo, e dado os custos elevados deste bloqueio, são muito poucas as que optam por o instalar. Por último, há também há que ressalvar que, para algumas profissões, o Facebook é uma verdadeira praça pública de contactos e conteúdos profissionais. E, como tudo na vida, a virtude reside no bom senso. E saber distinguir as duplas faces uma da outra."

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